Artigo
Dinheiro compra felicidade? Depende do preço a pagar!
Por Lauro M Demenech
Professor de Psicologia da Furg
Existe um debate de longa data sobre a busca pela felicidade ser ou não o principal objetivo da vida. De qualquer forma, pesquisas já identificaram que níveis elevados de felicidade estão relacionados a melhores condições de saúde e maior longevidade. Traçar uma definição de felicidade é, por si só, uma tarefa bastante complexa. Podemos analisá-la em uma perspectiva biológica, psicológica, cultural, e assim por diante. No entanto, felicidade pode ser entendida como o grau segundo o qual uma pessoa avalia positivamente sua qualidade de vida no momento presente.
Contudo, será que dinheiro compra felicidade? O conhecimento popular diz que sim. Afinal, quem nunca ouviu a expressão "dinheiro não traz felicidade, mas ajuda a sofrer em Paris"? Pois é, se essa afirmação for verdadeira, um número incontável de pessoas pode estar infeliz por razões evitáveis, especialmente em países marcados pela desigualdade, como o Brasil. Faz sentido: o poder de converter dinheiro em acesso a bens e serviços que protejam a saúde, promovam lazer e segurança parece facilitar as condições para que uma pessoa se sinta feliz. No entanto, pobreza não é sinônimo de infelicidade! Podemos encontrar a alegria em qualquer lugar, mesmo nas comunidades mais pobres. De certa forma, todos passam por dificuldades e estresses diários, que evidentemente diferem qualitativa e quantitativamente. Será que estaria nesses níveis de estresse a resposta para o questionamento?
Foi com essas interrogações em mente que eu e meus colegas da Furg conduzimos uma investigação para compreender a relação entre dinheiro, felicidade e estresse (destaque ao Prof. Dr. Samuel Dumith, coordenador geral da pesquisa). Em entrevistas domiciliares com 1.300 pessoas, foram feitos diversos questionamentos sobre saúde física e mental, bem como sobre suas condições socioeconômicas. Os resultados completos da pesquisa foram publicados na prestigiada revista científica Anais da Academia Brasileira de Ciências.
O que encontramos foi que, de fato, os níveis de felicidade foram significativamente maiores entre os indivíduos mais ricos. Ainda, níveis elevados de estresse foram mais prevalentes entre os mais pobres. Até aqui, nenhuma novidade, certo?
Todavia, quando analisamos as três informações juntas, observamos alguns efeitos muito interessantes. Primeiro: entre aqueles que relataram mais baixo estresse, o fator renda é indiferente, já que todos relataram índices elevadíssimos de felicidade! O segundo e mais intrigante efeito é o fato de que os participantes mais pobres com baixo nível de estresse foram significativamente mais felizes do que os ricos e muito estressados!
Qual a conclusão que podemos tirar desse estudo? Realmente, melhores condições financeiras facilitam a promoção de felicidade, mas isso pouco adianta se o preço a pagar for um estresse muito elevado. Não podemos ser levianos, pois as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com menor ou maior privação financeira são diferentes. Indivíduos mais ricos podem ter mais estresse relacionado com o trabalho e a produtividade. Por outro lado, os mais pobres podem enfrentar situações mais difíceis como instabilidade financeira, más condições de habitação, violência, insegurança alimentar, e assim por diante. De qualquer forma, na sua busca por desenvolvimento pessoal e melhores condições de vida para você e sua família, não se esqueça de dedicar um tempo para aquilo que é valoroso para você e lhe faz bem!
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